terça-feira, fevereiro 19, 2008

Novo curso

Mal chegamos do Brasil, no dia seguinte tive que acordar bem cedo (às 6h) para ir ao primeiro dia no curso que estou fazendo em Helsinki. A aula começa às 8h30 mas preciso acordar duas horas antes para tomar banho, fazer o meu café da manhã, pegar um ônibus e depois um trem. "Rapadura é doce mas não é mole, não."
Faço isso de segunda a sexta. Pelo menos, uma coisa é boa não preciso fazer almoço, a escola oferece almoço de graça, como qualquer coisa sem reclamar. Saio às 15h direto para casa. Chego em casa muuuito cansada e tento dormir um pouquinho. Tento porque fico pensando "se eu dormir agora, não dormirei de noite, então Carol, você não pode dormir". Fico nessa briga interna. Já percebi que não consigo dormir de tarde e nem de noite. É muita ansiedade para uma pessoa só. Preciso fazer yoga (será se eu aguento uma yoga?).
Esse curso que estou fazendo é oferecido pela Hesote para estrangeiros que querem conhecer e ter o primeiro contato com a área social e de saúde. Hesote é uma escola profissionalizante, além do curso que estou fazendo, ela oferece qualificação profissional em assistente de farmacêutico, assistente de laboratório dentário e enfermeira (nível básico em diferentes linhas de atuação), a duração desses cursos varia de 2 a 3 anos.
O curso que estou fazendo tem duração de um ano e terá 2 períodos de estágio. Durante esse ano teremos diferentes tipos de aulas, por exemplo, aulas de informática, de matemática, de sociedade e vida no trabalho, de finlandês, entre outras.
Por isso também teremos diferentes tipos de professores. Alguns já conhecemos, a professora da aula de finlandês é muito boa, as aulas dela são bem tranquilas, ela fala em um ritmo que nós entendemos bem (nem muito rápido e nem Teletubby). O professor da aula de sociedade e vida no trabalho é também o tutor da nossa turma, ele fala muito rápido, entendo metade e a outra metade passa batida. Já pedimos para ele falar mais devagar, mas não adianta. Não vou falar de todos os professores, só de mais um, quer dizer, de mais uma. Ela dá aula de estudos na Finlândia. Ainda não entendi o que isso significa, mas ela já fez a gente dançar e cantar músicas de crianças, participamos de um monte de dinâmicas e pediu para a gente desenhar a planta da nossa escola no período da alfabetização. Nessa última atividade perguntamos para ela qual era o objetivo em saber onde ficava a cantina, o parquinho, o banheiro, a sala de aula da minha escola e dos meus colegas, ela enrolou, enrolou e não disse nada. Depois dessa aula ela melhorou muito. Conversei com ela, disse que nós precisamos saber o motivo das tarefas antes de fazermos, se for uma atividade surpresa, que seja dito após a atividade, nós não somos crianças e podemos entender perfeitamente os objetivos de cada atividade que realizamos. Acho que ela aceitou a minha dica.
Sinceramente, o curso não está sendo do jeito que eu esperava. Eu esperava conhecer mais as profissões da área social. Conhecemos até agora somente as três profissões oferecidas pela Hesote. Puro marketing. Quando fui pedir ajuda a orientadora educacional, ela não sabia me dizer quais são as profissões na área social. Olhou em um livro que ela tinha por lá, me deu uns folhetos sobre os cursos da Hesote e para terminar, perguntou se eu conhecia o Google. Vocês acreditam nisso?
Se fosse para eu procurar no Google nem teria entrado nesse curso, por isso eu não estou gostando tanto assim do curso.
Além disso, descobri conversando com os professores e colegas do curso que para eu passar em um curso em finlandês de uma AMK, ou seja, de uma escola superior de educação profissional preciso ter no mínimo nível 4 em finlandês. Como vocês sabem meu nível de finlandês é 3 e para ter um nível 4, preciso estudar mais e mais finlandês e conversar bastante. Conclusão, precisarei de mais uns 2 anos estudando somente finlandês e depois mais 3 anos e meio para me formar na AMK, total 5 anos e meio estudando (se eu passar de primeira na AMK). Depois de um ano estudando finlandês, fazendo "trabalhinhos" na escola, tentando ler uma frase inteira no jornal ou nas cartas que chegam aqui em casa, não aguento mais estudar finlandês. Não sinto que está avançando. Nesse período que percebi isso, fiquei um muito perdida, conversei muito com Lu, com amigos e amigas, pesquisei, li muito e descobri que tem 2 AMK que oferecem cursos em inglês de Bacharel em Serviço Social. Agora decidi investir no inglês, já me inscrevi em dois cursos de inglês que acontecerão durante o mês de maio inteiro. Tenho a impressão que vai ser mais fácil e rápido avançar no inglês do que no finlandês.
Por enquanto, continuo no curso da Hesote, pois não quero ficar em casa fazendo nada. Essa semana estou de férias, chamadas por aqui de férias de inverno. Nem todo mundo está de férias, acho que os únicos sortudos são os estudantes e algumas pessoas que aproveitam essas férias para viajar para esquiar, patinar e praticar outros esportes de inverno. Vou aproveitar essa semana para tentar organizar melhor a minha cabeça e descansar muito.
No próximo post conto o que temos feito por aqui.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

De volta à Finlândia

A viagem de volta para Finlândia não foi tão complicada como a viagem de ida. Tivemos um momento de tensão.
Um dia antes da nossa viagem Lu ligou para a companhia aérea para saber quanto era o limite de peso por passageiro. Somente isso. Eles pediram o número da nossa reserva para saber se teríamos que fazer algum chekin no meio do caminho e avisaram a Lu que nossa reserva estava cancelada. Isso mesmo, can-ce-la-da! Logo depois de dizer essa bomba, responderam a pergunta sobre o peso das bagagens que naquele momento nem era tão importante assim. Lu chegou na sala assustado, dizendo que a nossa reserva foi cancelada. Lá fomos nós para o aeroporto resolver isso cara-a-cara com a empresa aérea. Detalhe isso aconteceu em uma tarde de domingo, ou seja, a agência SUECA que nos vendeu a passagem estava completamente fora de serviço.
Conclusão, fomos diretamente no balcão da empresa aérea no aeroporto internacional do RJ e conseguimos resolver mais esse problema. O bendito funcionário da empresa aérea conseguiu duas vagas em todos os vôos (RJ-Alemanha-Helsinki) que nós tínhamos "perdido", só que para um dia depois do previsto. Sem problemas. Foi ótimo pois ficamos mais um dia com meus pais e meu irmão e não pagamos nada pela mudança. O engraçado foi que ele nos disse que nossa reserva foi cancelada pois não usamos a primeira passagem de Helsinki para Munich, por isso todas as outras foram canceladas, sucessivamente, depois de 24h do horário da primeira passagem.
Para quem leu os três últimos post, sabe o que isso poderia implicar. Se aquela confusão toda demorasse mais que 24h de viagem, ficaríamos no meio do caminho com todos os vôos cancelados sem ter como ir para o Brasil e nem como voltar para a Finlândia. Ainda bem que não ficamos sabendo disso no meio do caminho para o Brasil. Só com emoção.
A viagem de volta foi tranquila, tirando o fato que no maior trecho (RJ->Alemanha), o vídeo das nossas cadeiras não funcionaram. No começo da viagem isso me abalou um pouco, fiquei triste, já que não consigo dormir em viagens de avião e os filmes que passam no avião me distraem. Lu resolveu tomar logo uma taça de vinho e eu fui na onda também. Não demorou muito para dormirmos, o álcool fez efeito bem depressa.
Enfim, depois de todas essas emoções fomos para o Brasil e voltamos para Helsinki bem, dessas confusões todas, isso é o que importa. :)

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Viagem de ida ao Brasil (3)

Embarcamos em Copenhagem e seguimos para Paris sem atraso. Chegamos em Paris no horário previsto, no entanto com 30 minutos para achar o terminal, fazer o checkin e entrar no avião.
Saímos correndo como uns loucos pelo aeroporto. Paramos no primeiro balcão de informação do aeroporto e Lu perguntou onde ficava o balcão da TAM, a atendente disse para pegarmos o elevador e seguirmos em frente que acharíamos o terminal 2 onde fica a TAM. Fomos correndo, pegamos o elevador e continuamos correndo, só que não conseguíamos achar nenhuma placa indicando para que lado estava o terminal 2. O tempo passando, o tempo passando, Lu perguntou a outra pessoa e no meio da explicação, ela disse as palavras mágicas "...peguem o trem e...". Ah! O trem, é claro. Voltamos para o lugar que a primeira atendente tinha nos dito e quando estávamos chegando, o trem saiu. Ficamos lá durante 3 longos minutos esperando o próximo trem. Pegamos o trem, só para contrariar, o terminal 2 é o último e vem depois do terminal 3. Saímos do trem e corremos, corremos e corremos. Já sabíamos que o aeroporto da França é muito grande, mas não imaginávamos que o balcão da TAM fosse tão longe. No meio da maratona, eu comecei a passar mal, perguntei se Lu ainda aguentava, ele disse que sim e passei as passagens para ele, parecia até aquela prova do bastão que tem nas olimpíadas. Lu continuou correndo e eu fui andando/correndo para recuperar o fôlego. Depois de muito correr, Lu resolveu perguntar a uma atendente se estávamos indo para a direção certa, ela disse "tá vendo aquele restaurante? a TAM é depois dele", o restaurante estava láááá no final do corredor, a gente não aguentava mais. Falei para Lu "vamos andando porque eu acho que já perdemos o vôo, não adianta mais correr". Andamos até a TAM em passos rápidos. Quando chegamos no balcão, Lu falou uma frase em inglês:"precisamos fazer o checkin para esse vôo", o cara que estava lá, falou "vocês falam inglês, francês ou português?", eu respondi na mesma hora "português". Ainda bem que ele falava português, porque Lu estava passando mal e não conseguia falar mais nenhuma palavra. Expliquei novamente o que aconteceu, ele disse que perdemos o vôo e falou o nosso problema em francês para um outro cara que estava no computador em nossa frente. Os dois ficavam conversando em francês na nossa frente e falavam "...SSA-GRU-GIG...". Percebi que estavam falando das siglas dos aeroportos de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Eu repetia "não tem salvador, não, é só são paulo e rio de janeiro". Depois de alguns minutos, para a nossa surpresa, o cara do computador falou com a gente em português, "vocês perderam esse vôo, mas temos outro vôo para SP. Esse é com escala em Salvador, não precisarão sair do avião e em SP vocês pegarão outro vôo para RJ, ok?", nessa situação só poderíamos dizer "ok". Fica aí a questão: por que eles falavam em francês na nossa frente? Foi uma grosseria da parte deles, enfim, naquele momento o que mais importava era entrar no avião para o Brasil em francês ou em português.
Pegamos as passagens e fomos em direção ao portão de embarque, a fila para entrar estava um pouco grande, ficamos um pouco apreensivos de perder novamente o vôo, mas conseguimos passar a tempo. Entramos no avião, sentamos e respiramos fundo. Agora sim, estamos a caminho do Brasil, ufa!
A viagem foi tranquila mas muito longa e, é claro, adivinhem? O vôo atrasou. Saímos do avião um pouco tontos. Chegamos em SP às 9h da manhã. Enfrentamos uma fila gigante de brasileiros vindo do exterior e depois outra fila gigante da alfândega. Imagine o aeroporto de Guarulhos na época de Natal, é isso mesmo, insuportável, mas estávamos felizes de estar no Brasil. Agora até de ônibus nós iríamos para o Rio. Depois de enfrentar essas filas, fomos para outra fila da TAM de transferência de vôo, pois tínhamos perdido o vôo. Isso nem era mais novidade. Depois de mais ou menos 20 minutos, chegou a nossa vez. A atendente disse que tinha duas opções: um vôo em Guarulhos às 17h para o RJ e eles pagavam uma diária em algum hotel até a hora do vôo ou pegar um vôo SP-RJ em Congonhas, o outro aeroporto de SP, e eles pagariam o táxi para Congonhas. Escolhemos a segunda opção, estávamos muito cansados e queríamos chegar logo no RJ. Na minha inocência perguntei a atendente "teremos que esperar naquela fila lá fora?", ela disse "não, é só chegar lá e pegar o táxi, sem fila, agora são 10h, o vôo de vocês é às 12h, em 1 hora e meia vocês estarão em Congonhas". Mentira. Chegamos lá, falamos que estávamos atrasados com a responsável pela empresa do táxi e ela disse "todo mundo dessa fila está atrasado também, vocês terão que esperar na fila, hoje está difícil, porque choveu muito e os táxis estão fazendo 2h daqui até Congonhas". Iríamos perder mais um vôo. Grande novidade, ha...ha...ha, isso nem nos abalava mais.
Pegamos o táxi, o motorista confirmou que seria 2h daqui até Congonhas. Quando estávamos chegando perto do aeroporto, ele falou "o santo de vocês é forte, porque aqui estava tudo parado, acho que vocês chegarão a tempo" e eu respondi "nosso santo é forte mesmo, se eu te contar o que passamos nessa viagem, você nem vai acreditar". O vôo para RJ não estava atrasado. Liguei para minha mãe avisando que não chegaríamos no aeroporto Galeão e sim, no Santos Dumont mais ou menos às 13h. Tadinha, estava no Galeão desde 8h30 nos esperando. Pegamos o vôo no horário certo e enfim, chegamos no Rio de Janeiro.
Só para manter registrado, o nosso roteiro final da viagem foi: Helsinki -> Copenhagen -> Paris -> Salvador (escala) -> São Paulo -> Rio de Janeiro. Aff...
O cansaço foi grande, mas vontade de chegar no Brasil, foi maior ainda. Conseguimos vencer essa maratona de estresse, sem nenhuma briga, com muita paciência, silêncio e, quando era possível, muito carinho. :)
No próximo post conto como foi a volta para a Finlândia, mas já adianto que foi beeem mais tranquila.

domingo, fevereiro 03, 2008

Viagem de ida ao Brasil (2)

Para relembrar, nosso roteiro era:

Saída -> Chegada
Helsinki (08:00h) -> Munich (09:30h)
Munich (17:00h) -> Paris (18:40h)
Paris (21:00h) -> SP (05:40h)
SP (07:30h) -> RJ (08:30h)

E mudou para...

Saída -> Chegada
Helsinki (11:30h) -> Copenhagen (13:00h)
Copenhagen (13:30h) -> Munich (15:00h)
Munich (17:00h) -> Paris (18:40h)
Paris (21:00h) -> SP (05:40h)
SP (07:30h) -> RJ (08:30h)

Nosso vôo de Helsinki para Copenhagen atrasou e por isso, já sabíamos que tínhamos perdido o vôo de Munich para Paris e assim sucessivamente. Embarcamos no vôo mesmo assim. Eu e Lu, por incrível que pareça, não brigamos em nenhum momento, foi um exercício de muita paciência e muito silêncio. No avião trocamos poucas palavras e quando desembarcamos em Copenhagen também mal nos falamos, estávamos focados em resolver o problema, então fomos direto para o TransferCenter. TransferCenter é o lugar onde se concentra a maior quantidade e variedade de problemas relacionados a uma determinada empresa aérea. No nosso caso a empresa era a SAS. Chegamos lá, pegamos a nossa senha e ficamos olhando fixamente para o painel que indicava a senha da vez. Naquele lugar dava para sentir a tensão das pessoas presentes, inclusive a nossa.
Chegou a nossa vez. Lu explicou para a atendente o que tinha acontecido. Falou que por causa de um problema (ele não disse qual) nós perdemos o vôo de Helsinki para Munich, depois compramos as passagens de Helsinki para Munich com conexão em Copenhagen para não perder as passagens da outra reserva para o Brasil e por causa desse atraso nós perdemos os vôos seguintes. A atendente pediu para Lu explicar, Lu deve ter explicado mais umas duas vezes o nosso "probleminha", quase tivemos que apelar para aquela célebre pergunta "quer que eu desenhe?". Depois de tudo esclarecido, ela fez algumas ligações e buscas na internet. Lu disse que só via a atendente apertar a tecla "esc", o que significa que ela buscava alguma coisa e depois cancelava a busca. Depois de tantas buscas, "esc" e ligações, ela chamou o supervisor. Quando eles chamam o supervisor é porque o problema é sério mesmo. Tentávamos deduzir o que estava acontecendo pois eles conversavam em dinamarquês e algumas palavras eram parecidas com o inglês, mas não tivemos muito sucesso na tradução. Quando o supervisor foi embora. Pedi para Lu perguntar pra ela o que estava acontecendo. Estávamos com medo dela dizer a qualquer momento "sinto muito mas vocês terão que voltar para Helsinki". Engulimos o medo e Lu perguntou. Ela respondeu sorrindo "vocês trouxeram um problema pra me testar, é a primeira vez que resolvo um problema como esse". Ufa, essa resposta foi bem melhor do que nós estávamos esperando! Depois de mais alguns minutos, ela disse "tenho uma solução para vocês". Acho que dá para imaginar como essas palavras nos fizeram bem. Foi a primeira boa notícia de toda a viagem. Ela sugeriu que pegássemos um vôo direto de Copenhagen para Paris, chegando em Paris teríamos 30 min para chegar no terminal e fazer o checkin e assim não perderíamos a nossa reserva inicial. Nós aceitamos, é claro, e como sabíamos a dimensão do aeroporto de Paris, perguntamos se perdêssemos o próximo vôo o que deveríamos fazer. Ela respondeu para nós procurarmos o setor de transferência novamente e acrescentou "quando vocês chegarem em Paris terá uma pessoa esperando vocês, espero que tudo dê certo e ah! esqueçam as malas, algum dia elas chegarão no RJ". Nesse momento nem estávamos preocupados com as malas, só queríamos chegar no Brasil. Essa atendente foi um anjo pra gente, agradecemos muito, pegamos nosso novo roteiro e fomos tomar um café para relaxar.
Liguei para o RJ e falei para minha mãe que tivemos um problema e que chegaríamos um pouco atrasados. Não adiantava detalhar o que tinha acontecido e o que poderia acontecer, então adotamos a estratégia de falar em um modo genérico. Minha mãe também não perguntou muito pois eu disse que não poderia demorar no telefone pois senão a ligação ficaria muito cara.
Depois passeamos tranquilamente no aeroporto, voltamos a conversar, até mesmo a sorrir, ficamos fazendo hora até o horário de embarque.
Tivemos a nossa segunda boa notícia do dia, o vôo não atrasou. Embarcamos e fomos a Paris no horário previsto.