segunda-feira, novembro 05, 2007

Primeiro dia do estágio

O estágio não está nada fácil. Eu já sabia que não seria fácil, mas tinha esperança que seria um pouco diferente. Semana passada foi a primeira semana do meu estágio na escola.
Primeiro dia foi como todos os primeiros dias em algum lugar diferente: você se acha esquisita, algumas pessoas te olham com curiosidade e outras olham estranhamente para você como se sua boca estivesse na sua testa. Cheguei na escola e fui direto para a sala da Elena (a moça que me auxilia no estágio). Peguei o meu horário com ela e depois ela me mostrou as salas onde eu irei ajudar o professor de informática e os professores de matemática. No caminho conheci alguns professores da escola. Eles trocam algumas palavras, eu entendo pouco, mas sempre mantenho o sorriso no rosto. Podem estar falando mal de mim, se eu não descobrir continuo sorrindo, acho que vai demorar um pouco para eu descobrir pois eles falam um finlandês muito rápido e estão sempre sorrindo, por enquanto eu acompanho o sorriso.
Não me pergunte o nome de cada professor que eu encontrei nessa semana, só sei o nome da Elena, que está me ajudando, e dos professores com quem eu trabalho diretamente (Janne, Pavel e Sami). Os nomes dos outros, que Elena me apresentou, não consigo lembrar por dois motivos: primeiro que são nomes muito diferentes para nós brasileiros acostumados com o simples "José" (Zé) e segundo motivo como eu já disse, eles falam muito rápido, um segundo depois eu já não sei o nome da criatura para quem estou sorrindo. Ainda bem que na sala dos professores tem uma foto com o nome de todos os professores e de vez em quando dou uma olhada lá. Na sexta-feira uma professora bem simpática veio conversar comigo, ela falou o nome dela e eu inocente, achando que eu poderia aprender, pedi para ela repetir. Foi em vão. Lembrei da foto e pensei "segunda eu tenho que ver a foto e descobrir o nome dela, vai que ela vem falar comigo de novo, vai ficar feio, ela foi tão simpática, ela merece!". Hoje (segunda-feira) cheguei na sala dos professores e fui direto na foto e procurei ela e seu respectivo nome cuidadosamente. Agora eu sei o nome ela é Irina.
Voltando à segunda-feira passada. Depois de conhecer alguns professores, fiquei esperando a aula de informática começar. Quando o sinal tocou, fui para sala junto com o professor, Janne.
Na primeira semana sempre que eu entrava em uma nova sala, os alunos ficavam desconfiados, alguns perguntavam diretamente para mim "Quem é você?". Isso aconteceu mais nas aulas de Pavel porque ele não deu nenhum espaço para eu me apresentar. No entanto, em todas as aulas de Janne ele pediu que eu me apresentasse. Não sei como será nas aulas de Sami, vou saber essa semana, ainda não conheci a turma dele pois não fui para a escola na quinta-feira passada.
A primeira turma de segunda-feira só tem adolescentes finlandeses. Encarar no primeiro dia do estágio adolescentes finlandeses, não foi fácil (e ainda não é), eles falam muito depressa e usam muitas gírias, fico completamente perdida. O professor é bem paciente e o assunto é simples. Nessa turma ajudei os alunos a usarem a linguagem (de programação) Pascal. Vi essa linguagem no primeiro semestre da faculdade, nem lembrava mais. Aos poucos fui lembrando um pouco ali, um pouco aqui. Tirei de letra. :)
Depois dessa aula fui para casa rapidamente comer alguma coisa e voltar para a próxima turma. Após o lanche que durou poucos minutos (nem deu tempo para a comida chegar no estômago) fui para a escola e esperei sentada na sala dos professores o sinal tocar.
Esperava que alguém falasse comigo. Que nada! Me olhavam e passavam direto, nem "Moi (= oi)" eles falavam. Quem sabe no último dia do estágio? Cheguei em casa arrasada depois do primeiro dia de estágio, conversei com Lu sobre isso e ele disse que sofreu bastante no início mas que hoje já não se incomoda mais. Hoje foi primeiro dia da segunda semana, já estou mais tranquila, já relevo o povo que não fala comigo, minha expectativa está bem mais baixa se alguém falar comigo é lucro. Sei que todo lugar tem gente assim, isso não é uma característica finlandesa, acho que eu é que não estou acostumada com isso. Eu não sou assim, não gosto de ver ninguém sozinho, não me custa nada conversar um pouco, pois sempre penso e "se fosse eu? como eu estaria me sentindo?". Sempre trabalhei em projetos sociais com pessoas super alto-astrais ou na universidade com amigos. Nunca passei por uma situação parecida com essa. Sei que tudo é sempre aprendizado.
Onde eu parei mesmo? Ah sim, estava esperando o sinal tocar. Elena veio em minha direção perguntar se eu consegui comer, eu respondi que sim, logo em seguida, o sinal tocou. Lá fui eu seguindo o Janne até a sala. Como era uma turma nova, me apresentei novamente. Essa turma é mais misturada, tem adolescentes finlandeses e estrangeiros, mas os estrangeiros falam tão bem finlandês quanto os finlandeses. Ou seja, às vezes, é impossível entender o que eles dizem e mais difícil ainda é ajudar sem saber as palavras certas. Me sinto às vezes sufocada, pois sei como ajudar mas não sei dizer em finlandês. Uso mímica, sons, alguns verbos que eu lembro no momento, alguns exemplos, enfim, tento de todas as formas, não desisto. Se eu continuar assim, no final do estágio eu serei uma ótima mímica e não terei aprendido nada de novo em finlandês (Oops!). Então, para que isso não aconteça, durante a aula eu pego algumas dicas e palavras básicas com o professor. Depois das dicas do professor, estava me sentindo mais útil, até que passei atrás de uma menina com uma cara enfezada e ela me fez uma pergunta. Ela falou muito rápido. Olhei para ela, não disse nada, olhei para o monitor para tentar pegar alguma dica, nada. Peguei uma cadeira, sentei do lado dela e disse em finlandês "Você poderia repetir? Pois eu não entendi o que você disse". A menina nem olhou para mim, virou em direção ao professor, levantou o braço e disse "Opêêê! (= Profêê)". Fiquei batida! Que menina grossa! Nem passei mais por perto dela. A aula terminou, voltei para casa e fiquei esperando Lu chegar do trabalho.
Quando Lu chegou contei como foi o meu dia super tristinha. Quem conhece Lu sabe o que ele fez depois que contei sobre o caso da menina mal-humorada. Riu muito. Depois disso eu até achei engraçado e até me senti bem melhor.
No próximo post conto como foram os outros dias no estágio (e coisas mais).

7 comentários:

Vinicius disse...

Kerol, gente grossa é que nem erva daninha: dá em todo lugar. :-)
A gente sabe que o problema na verdade é da pessoa que tá mal-humorada, e não seu, que tá fazendo tudo certo. Mas que incomoda, ah... incomoda pacas!
Mas vc, como sempre, está tirando mais essa de letra! Eu não consigo me imaginar no seu lugar, tendo que lidar com tanto adolescente falando giria filandesa... Afff... No colméia era bem mais fácil hein? hehehehe!

Beijos e força, sempre!

Cassio disse...

Carol, não sei quanto ao finlandês, mas ao menos o estágio promete servir para gerar boas histórias para animar o blog! :)

Uma questão complicada é aprender a linguagem corporal e "social" (acabei de inventar esse termo) das pessoas daqui. É diferente da que temos no Brasil. E não é só finlandês, outros europeus também são diferentes, mas o finlandês é um caso meio extremo.

Já passei várias situações com isso, incluindo reuniões que achei que tinham sido um desastre, saí com o rabo entre as pernas, e fui saber depois que estavam todos "empolgados" e "ansiosos" para saber do progresso do trabalho. :S Mas com o tempo dá para entender melhor as reações, e quase dá para ver uma pontinha de emoção de vez em quando. :)

Teea disse...

Carol, apesar de já ter ouvido algumas coisas do seu estágio, fiquei um pouco triste ao ler este post. Mas a tristeza se passou logo ao chegar no final, já comecei a rir com o Lucas. ;) E ainda melhor fiquei com o comentário do Cássio ("mas o finlandês é um caso meio extremo", kkkkk).
Mas falando a sério: força e paciência! Primeiro tem que entender essas famosas diferenças culturais, sociais e não sei o que mais... e depois saber lidar com eles, né? Fácil não vai ser (e ainda menos com os adolescentes, viu!), mas já sei que você vai chegar lá. ;) Confio com você, 100%.

Beijos do outro lado de Espoo,
Teea

Anônimo disse...

Oi, Carol,

Quando eu vi o tútulo do post eu achei masssa. No texto eu cheguei à conclusão que seu começo de estágio foi como todos os outros começos de estágios do mundo. :)

Realmente é complicado ter expectativas com relação às pessoas, porquê cada local é um mundo, e nunca vai ser do jeito que a gente esperava. Em Porto Alegre eu e Josy sentimos esse tipo de coisa, mas nem imagino como deve ser isso em finlandês ...).

De qualquer forma eu estou muito feliz de saber que você está se jogando aí!

beijão!

Unknown disse...

Oi, Carol, sou uma jornalista do Estadão e procuro brasileiros na Finlândia para uma matéria. Se puder entrar em contato, meu email profissional é ana.araujo@grupoestado.com.br
Abraços e obrigada,
Ana

Anônimo disse...

Oi, Cá!

Não preciso acrescentar nada em relação ao que povo disse anteriormente:

Vinícius: «...gente grossa é que nem erva daninha: dá em todo lugar. :-)»

Cássio: «Uma questão complicada é aprender a linguagem corporal e "social" (...) É diferente da que temos no Brasil. (...) Mas com o tempo dá para entender melhor as reações...»

Teea: «...força e paciência!»

Terceiro: «...seu começo de estágio foi como todos os outros começos de estágios do mundo...»

Como disse, creio que não tenho algo a acrescentar. Ah, tenho sim:

Sucesso, sucesso e sucesso, vá em frente, minha amiga, torço por si!

Beijo aqui, de mais pertinho, em Lisboa,
Wagner.

P.S.: Lu é um bom sacana, só porrada... ;-)

Bryan Schuler disse...

Carol..Nem te conheço mas queria fazer uma perguntinha! Estou pegando o basicão de Finlândes e estou muito disposto à estudar muito esse país , esse idioma e essa cultura! Eu tinha um bisavô finlândes e uma bisavó alemã. É uma mistura e meu pai fala que se eu for pra Alemanha ou qualquer país da Escandinavia , não vão me olhar estranho. Só que quero estudar muito finlândes! É uma língua tão fácil de ser compreendida , igual ao inglês e alemão. Pelo menos pra min que aprendeu as duas já. Mas acho que o esquema é igual ao do Inglês , estudar o básico , tipo formação e conjugação de verbos, e etc , dps pegar e dar uma boa lida em quase todas as palavras existentes na língua. Abraços!