quarta-feira, março 31, 2010

Primeiro mês de Julinha (2)

Como eu disse, é muito trabalho! Estamos revezando os momentos que ela chora, pois é muito estressante para uma pessoa só. O estresse vem mais do cansaço e das noites mal dormidas. O choro em si não nos incomoda, é só um "plus" a esse cansaço. Quando o choro vem e nós estamos descansados, é tranquilo, não nos estressa nenhum pouco. Eu fico mais cansada que Lu, pois tenho que amamentar ela de 2 em 2 horas, não tem jeito. Vem o cansaço, as mudanças hormonais, o choro e o desânimo, mas ainda bem que tenho Lu que nessas horas pega Julinha e diz "vai descansar que eu fico com ela". Ás vezes é ele quem estressa, nessa hora sou eu que pego Julinha. Até agora não coincidiu de os dois estarem estressados ao mesmo tempo, sempre um está mais tranquilo e descansado que o outro. Além do cansaço, tem o estresse de estarmos expostos a essa nova experiência, onde tudo nos preocupa, "será que ela está bem?", "por que ela chora tanto?", "por que ela vomitou todo o leite?", "será que ela está com febre?", entre muitas outras perguntas que vamos tentando responder com a prática.
Durante a noite Julinha dorme no nosso quarto dentro do carrinho, porque se ela faz algum som é mais rápido dar uma olhadinha da cama mesmo. Lu ficou com essa responsabilidade, o carrinho fica do lado dele da cama, já que estou ainda no período de recuperação da cesária e não posso me levantar rápido. Sempre que ouvimos alguma coisa, Lu levanta rápido e vê se está tudo bem com ela. Lu tem um ouvido muito bom, bom até demais para os gemidos dela, qualquer barulhinho ele acorda, eu nem "tchum", durmo pesado que não escuto nada. Afff, que mãe é essa?!
Teve uma noite que foi muito engraçada, estava dormindo com o travesseiro em cima de mim e acordei meio azuada, eu jurava que Julinha estava em cima de mim, acordei Lu e disse "pega ela aqui", ele acordou azuado também e perguntou "é o que?", eu repeti "pega ela aqui e coloca no carrinho", ele olhou o carrinho meio dormindo e disse "mas ela está no carrinho", na mesma hora eu respondi "tá, tá, vai dormir, vai". Que loucura! Isso que dá ficar algumas noites sem dormir.
Lu está sendo um ótimo pai e marido. Ele que sempre teve medo de pegar um bebê, com Julinha é diferente, ele troca a fralda, dá banho nela, brinca com ela, dá colo, faz ela dormir, vai no mercado, limpa a casa e ainda tem tempo para me dar apoio e carinho. Ele se supera a cada dia!
Mesmo com toda essa novidade e estresse, acho que estamos indo bem. Cada dia Julinha nos mostra uma nova expressão, um sorriso e tudo isso compensa. Até o próximo post!

Eu e Julia

Lu e Julia

Primeiro mês de Julinha (1)

Nesse fim de semana Julia completou um mês de vida! E quanto trabalho! Julinha está crescendo cada dia que passa o rosto fica mais redondinho e algumas roupas já não cabem mais. Ela está cheia de saúde e já esbouça um sorrizinho depois que mama e brinca, uma graça! Quando movemos um brinquedinho na frente dela ela acompanha com a cabeça e os olhinhos. Ela é bem ligada ao redor dela, quando ela está mamando, ela fica olhando tudo ao redor da gente. Depois que mama, temos que ter o maior cuidado com ela pra ela não vomitar tudo que mamou. Descobrimos que ela tem refluxo, tadinha, vemos o sofrimento dela, ela se contorce, estica as perninhas e chora durante e depois da mamada. Teve um dia que ela vomitou três vezes, uma pela tarde e duas vezes de noite. Nessa noite dei um peito, ela vomitou tudo, depois de alguns minutos ela já estava com fome de novo, dei o outro peito e ela vomitou tudo, eu chorava de estresse, ela de fome e Lu teve que dá conta de nós duas. Foi um horror vê-la vomitando tudo! Na semana que isso aconteceu fomos no hospital com ela e o médico disse que ela tem refluxo mesmo mas que não era para se preocupar pois ela está ganhando peso. Ele receitou um remédio para aliviar a angústia dela depois de cada mamada mas percebemos que ela sempre vomitava depois de tomar o remédio, era muito líquido para o estômago dela. Estávamos dando 15ml do remédio mais a mamada, não dava pra ficar tudo na barriga dela, decidimos parar com o remédio e acompanhar o peso dela toda semana. Durante esse primeiro mês ela teve as primeiras visitas médicas em casa, foram 4 no total, 3 com a midwife e 1 com a health visitor. Essas visitas fazem parte do programa de saúde pós-parto disponível para todo mundo aqui na Inglaterra. No hospital examinaram o ouvido dela pra saber se tem alguma coisa e ainda bem ela não tem nada, ela tomou uma injeção de vitamina K, para evitar disfunções no sangue, e a BCG, que previne a tuberculose. Quando ela tomou a BCG no hospital no meu colo, eu não vi nada, pois não gosto de agulhas, Lu estava do nosso lado e viu tudo, eu só ouvi ela chorando e já foi o suficiente para chorar com ela. Tadinha mal nasceu e já estava recebendo uma injeção! Enfim, é necessário. O teste do pezinho foi feito aqui em casa com a midwife. Nas visitas da midwife ela me examinava e depois examinava e pesava Julinha. Na visita da helth visitor ela fez um monte de perguntas sobre Julinha e preencheu o caderno vermelho que recebemos no hospital com todas as informações de saúde desde o nascimento dela, explicou como devemos usá-lo e se ela precisar ir ao médico devemos levar esse caderno conosco até ela completar 5 anos. Bem legal! Depois ela tirou nossas dúvidas sobre Julinha e pesou ela. Essa foi a última vez que pesamos, ela estava com 4,3kg no dia 28 de Março sendo que ela nasceu pesando 3.3kg.
A cada dia que passa estamos a conhecendo mais. Depois que descobrimos que ela tem refluxo deixamos ela sentada pra arrotar durante uns 20 minutos. De noite ela tem dormido mais, ainda bem! Durante o dia ela mama de 2 em 2 horas e de noite varia, às vezes de 4 em 4 horas, às vezes ela mama depois de 5 horas de sono seguido outra noite ela mamou depois de 7 horas! A gente agradece! :-)
Trocamos a fralda dela antes dela mamar, é uma maratona. E por falar em fraldas, estamos usando a Pampers, é muito boa mesmo, a Huggies é um horror, a maioria das vezes que ela fez cocô as roupas dela sujaram e sujaram de um jeito que as manchas não saem mais.
O primeiro banho foi no hospital, onde a enfermeira nos ensinou como fazer. Por aqui não tem essa de esperar o cordão umbilical cair para dar o primeiro banho (o cordão dela caiu no dia 6 de março). Em casa estamos dando banho uma a duas vezes por semana.
Desde o primeiro dia de vida dela ela está mamando no peito, foi uma decisão minha e de Lu. Confesso que não é nada fácil. Eu achava que era só colocar Julia no peito e pronto, o leite ia sair e ela iria ficar de barriga cheia. Já tinha ouvido falar que amamentar dói e o bico do peito racha e sangra, mas com alguns vídeos que recebi no dia da aula sobre amamentação, tudo mudou. O peito nem sempre racha e se racha a posição está errada ou o bebê não está pegando direito. Até hoje, eu não tive bico rachado e nem sangrando, o máximo que chegou foi o seio do lado direito ficar "assado" porque ela pegou errado. Fui em um grupo de apoio a amamentação e lá me explicaram como fazer direito. Cada bairro tem um grupo desse, nesse grupo as mães e seus respectivos bebês vão para aprenderem como amamentar, tirarem suas dúvidas e conhecerem outras mães no bairro. Tudo isso de graça. Foi bom ter ido lá pois conheci algumas pessoas e me senti mais segura em amamentar Julinha. Devo voltar na próxima terça-feira.
Acho que falei tudo sobre Julinha nesse primeiro mês. No próximo post conto como eu e Lu estamos nesse primeiro mês.

Julia, linda!

sábado, março 20, 2010

O nascimento de Julia (parte 2)

Continuando de onde eu parei no post anterior...
Depois de algumas horas usando todas as técnicas possíveis e puxando o máximo de gás possível, fizeram outro exame mais ou menos às 20h e eu estava com 6cm de dilatação e por isso a midwife disse que repetiria o exame depois de 4h. No final do dia eu já tinha passado por 3 midwives diferentes. Perto da meia noite, eu já sentia vontade de empurrar e a midwife falava "não empurre! ainda não é a hora!". Me examinaram de novo, como estava muito tensa, a midwife não sabia dizer se eu estava com 9cm ou 9,5cm, ela resolveu chamar a "chefe" das midwives e ela confirmou que eu estava com 9cm. Disseram para esperar mais duas horas que eu iria alcançar os 10cm. No entanto eu já estava desidratada, cansada, febril e as contrações já estavam bem espassadas. Então, elas sugeriram que tomasse uma dose de ocitocina (em inglês: syntocinon) para dar um "boost" nas contrações, só que como eu já não aguentava mais as dores, elas sugeriram que eu tomasse a peridural. Ah! A peridural! Nós aceitamos na hora! O anestesista e sua assistente apareceram no quarto. Pediram para minha mãe sair enquanto eu tomava a peridural. Minha mãe, tadinha, foi levada lá para o primeiro andar, onde tinha uma sala de espera. Depois que levaram minha mãe, o anestesista começou a contar todos os riscos de uma peridural e disse que enquanto ele tiver aplicando a peridural eu não posso me mexer de jeito nenhum e que se eu sentisse uma contração, era para eu avisar que eles esperavam passar. Nessa hora Lu ficou preocupado e eu só pensava em tomar logo essa injeção e me livrar das dores. Lu ficou na minha frente me segurando e me apoiando, enquanto a midwife ficava tentando achar o batimento cardíaco de Julinha. Quando eu senti a primeira agulhada, lá veio uma contração e pararam tudo. Depois que a contração passou, o anestesista terminou de aplicar a peridural e eu estava no paraíso. Logo que terminou a aplicação da peridural, Lu foi lá embaixo buscar minha mãe. Todo mundo que tinha me visto antes da peridural e passou lá no quarto depois da peridural dizia "poxa! como você está diferente agora! você parece bem melhor!". Eu estava me sentindo muuuuito melhor mesmo! Até mesmo o exame foi tranquilo, não sentia nada e as midwives puderam confirmar que eu estava com 9cm de dilatação. Disseram que iriam esperar mais 2 horas para ver se a ocitocina fazia efeito. O engraçado era sentir a barriga contrair sem sentir absolutamente nada. Julinha estava muito bem dentro da minha barriga, não estava cansada e parecia reagir bem a tantas horas de parto.
Depois de 2 horas me examinaram e não tinha feito nenhum progresso, resolveram aumentar a dose da ocitocina. Após 2 horas, nenhum avanço. Isso já era perto das 5 horas da madrugada, uma médica mais algumas midwives vieram em meu quarto e sugeriram a cesária porque já fazia mais de 24h que a bolsa tinha rompido, as minhas contrações ficaram mais espassadas e mesmo com a ocitocina, eu não estava mais dilatando. Só nesses momentos que a gente percebe que 1 cm faz muito diferença. Concordamos com a cesária e lá fomos nós nos preparar. Lu entrou comigo, eles usaram a mesma aplicação da peridural dada anteriormente para a cesária. Antes de começarem, perguntaram para Lu se ele não queria pegar a máquina fotográfica pois ainda teria tempo. Nós achávamos que não podia tirar fotos lá dentro, mas assim que eles liberaram, Lu foi lá fora pegar a máquina rapidinho. Depois de uma dose potente de anestesia, não sentia mais nada da cintura para baixo. As médicas começaram a fazer os primeiros preparativos e ainda não tinham colocado aquela cortina na nossa frente, a gente achou que não teria cortina e que Lu iria ver tudo, mas logo depois vieram com a cortina, ufa que alívio! Depois de só sentir elas me puxando para um lado e para outro, ouvimos Julinha chorar. Foi tão forte, tão emocionante, Lu abaixou um pouco, me abraçou e começamos a chorar juntos. Falei para ele "vai lá ver nossa filha". Ele foi e ficou lá, eu na maca chorando e chorando, quando vi que ele não voltou, comecei a chamá-lo. Ele veio, eu perguntei "como ela é?" e ele disse "ela é engraçadinha!". Depois eu soube que esse "engraçadinha" era para ser "a cabeça da nossa filha é amassada!!!". Como ela ficou muito tempo encaixada para nascer, é claro que ela iria sair com a cabeça amassada, mas Lu não sabia e ficou assustado. A midwife trouxe ela para eu ver e ela chorava, chorava e chorava. Já nasceu faminta. Depois fomos para um outro quarto pós-operatório e já fui amamentar Julinha com a ajuda da midwife. Depois chegou minha mãe para conhecer a primeira netinha dela. Ficamos todos olhando e babando. :-)
Eu e Julia ficamos no hospital por três dias, as madrugadas foram ruins para mim, Lu não pôde ficar comigo e tive que ficar sozinha lá tentando aprender como amamentar e a lidar com Julinha aos berros. Foi um alívio voltar pra casa depois disso tudo e ter Lu e minha mãe para me ajudar.
Nossa vida mudou muito com Julinha por perto, nos próximos posts vou contando como está sendo as primeiras semanas de vida de Julia.

quinta-feira, março 18, 2010

O nascimento de Julia (parte 1)

O dia tão esperado enfim chegou! O primeiro sinal apareceu uns dias antes, o tampão (muco transparente) veio no dia 25 de Fevereiro, o trabalho de parto começou no dia 27 de Fevereiro e ela nasceu no dia 28 de Fevereiro. Ela foi bem pontual, a bolsa rompeu mais ou menos às 2h da madrugada do dia 27 de Fevereiro, o dia que estava previsto para ela nascer. Eu e Lu estávamos vendo um episódio de Desperate Housewives deitados na cama quando eu senti um "poc" e a água começou a escorrer. Logo em seguida comecei a sentir as contrações e já vieram potentes de 5 em 5 minutos. Minha mãe acordou e ficou com a gente no quarto. Liguei para o Birth Centre do Hospital Queen Charlotte pra avisar que a bolsa tinha rompido.
No hospital tem dois lugares para nascimentos: Birth Centre e Labour Ward. O primeiro é focado em partos normais, totalmente natural, sem peridural, as enfermeiras (midwives = parteiras) são especializadas nesse tipo de parto, elas ensinam como lidar com as contrações com técnicas de respiração, massagem, monitoram o coraçãozinho do bebê e ainda disponibilizam uma banheira para relaxar durante as contrações. Os quartos tem o gás, uma banheira pequena para ser usada quando o bebê está para nascer, colchão e almofadas no chão, uma bola grande tipo aquelas de ioga e pilates e outras coisas mais. O segundo é para partos que precisam de mais atenção, quando a gravidez tem alguma complicação e é necessário tomar uma peridural (anestesia da cintura para baixo) ou se a grávida não aguentar mais as dores e quiser a peridural para continuar o trabalho de parto, lá também tem as midwives para ajudar durante as contrações e monitorar os batimentos cardíacos do bebê; os quartos tem o gás, a bola grande e uma banheira. Nos dois lugares, os médicos só aparecem quando tem alguma complicação durante o parto, senão tiver nenhum problema, os partos são feitos só com as midwives.
Eu tinha escolhido o Birth Centre pois queria um parto normal na banheira. A enfermeira que atendeu a ligação disse que era pra eu esperar mais um pouco em casa e se não tivesse aguentando as dores era pra eu ir para o hospital. Depois de algumas horas já estava doendo muito, decidimos ir no hospital. Chegando lá a enfermeira me examinou (nesse exame fui na lua e voltei, doeu demais!) e viu que eu só tinha 2 cm de dilatação!! Depois de algumas horas com contrações de 5 em 5 minutos e eu só tinha 2 cm!!! Para quem não sabe temos que ter 10 cm de dilatação para o bebê nascer, então faltavam "somente" 8 cm. No geral, cada 1 hora equivale a 1 cm, ou seja, ainda tinha que lidar com as dores no mínimo por mais 8 horas! Como estava muito no começo a enfermeira sugeriu que eu ficasse um pouco na banheira e depois voltasse pra casa. Foi isso que fizemos. Pegamos um taxi do hospital pra casa que em cada buraco e curva sentia as contrações mais fortes. Cheguei em casa e fui direto pra banheira. Esperamos mais algumas horas e as contrações estavam cada vez mais fortes. Decidimos voltar pro hospital, mas agora fomos pro Labour Ward, pois eu já estava considerando tomar a peridural e esquecer esse negócio de parto na banheira. Chegando no hospital, me examinaram de novo e adivinha? Tinha aumentado só 1 cm!!! Agora estava com 3 cm!!! Uau hein?! Fiquei tão desapontada, depois de dezenas de contrações, só 1 cm?! A midwife disse que ainda estava muito cedo para o parto e me mandou voltar pra casa, eu disse de uma forma bem segura "I won't go back home, I will stay here!". Imagine voltar com aquele taxi, os buracos, as curvas, tirar as camadas de roupa quando chegar em casa e sentir as dores sem nenhuma orientação, nem pensar!!! Ela disse que eu poderia ficar lá, me ensinou a usar o gás, ensinou Lu e minha mãe a fazer massagens em minhas costas durante as contrações e como usar a bola. Fiquei um tempo sentada na bola com a cabeça encostada na cama e Lu fazendo as massagens em minhas costas. Nem preciso dizer que minha mãe estava super tensa, mas mesmo assim estava ali do meu lado fazendo carinho, prendendo meus cabelos e dando apoio a Lu também. Lu estava bem focado em me ajudar que nem sentiu o nervosismo.
Vou parando por aqui, já está na hora de amamentar Julinha e já escrevi de mais para um post, no próximo post continuo contando como foi o parto de Julinha. Até mais!